11 de out. de 2006

Urbana Legio Omnia Vincit 2

Queria mais que nada publicar um poema que escrevi no dia em que Russo se foi:

A Passagem

Jaz siderado, dentro de mim,
o amigo que não conheci;
o infinito vai ficar mais feliz
e eu perderei o bom senso.

Entender o que,
quando me sinto assim?
Fizemos nos acreditar
em mãos misericordiosas,
mas tamanho desespero
perpetua agora
junto à perplexidade
em mim vitoriosa.

Abriu-se o portal
de uma outra noção de vida;
você foi, eu também irei,
mesmo assim não posso dizer
que nos encontraremos algum dia.

Agora, só sinto saudade e pena
de todos que não o teremos
nunca mais;
e pela última vez, quem sabe,
rascunhei sentimentos
de roubadas palavras suas,
que não mais as devolverei,
já que agora você está em paz.

Urbana Legio Omnia Vincit

São 10 anos sem minha banda favorita, sem meu artista favorito, de quem roubei descaradamente o estilo de escrever letras e poemas que um dia, superadas a preguiça e conformismo, hei de musicar. Seria mentira absurda dizer que perdi a vontade de ter uma banda ou que a inspiração se perdeu nesse momento. Minhas ganas de ser músico ou de escrever foram definhando pouco a pouco, quase até desaparecer. Penso até que, na verdade, era apenas uma necessidade de me expressar, coisa que sempre tive dificuldade. Sempre fui uma criança emocional (ou seja, alguém com dificuldade de se expressar emocionalmente). Acho que ainda sou um pouco. Talvez a grande maioria de nós seja. O que importa é que eles se expressavam por mim, representavam, com todos os seus defeitos, posições idealistas e éticas tão em falta a cada dia que passa. Quem não queria ser Renato Russo? Feio, magro demais, vindo de uma família endinheirada, que tinha um projeto, chamou seus amigos e venceu na vida, com base em seus princípios. Poderia ter virado um poeta maldito, escrevendo pra si mesmo, vivendo do dinheiro paterno, mas idealista que era, seguiu à risca a máxima do punk: faça você mesmo. Eu nem gosto muito de punk, mas como faz falta esse tipo de atitude! E como faz falta alguém como ele no imaginário coletivo... Estamos tão cínicos, já nem acreditamos mais em nada, nem ninguém. Mas de tudo que eu li nos últimos dias sobre Russo, o que me mais me chamou a atenção foi algo que Dado Villa-Lobos disse: tinha brigado feio com Renato e depois de um mês, quando foi procurá-lo pra conversar... já havia pensado muito sobre isso antes e ler sobre este episódio só fez aumentar meu medo de um dia sair de casa brigado e, de repente, não voltar pra esclarecer, ou pior ainda, não ter com quem aclarar as coisas quando voltasse. Já pensaram nisso? Por causa disso, tento estar mais calmo, não me irritar tão facilmente. Não quero levar ressentimentos, nem quero que levem isso de mim. Curiosamente, no disco solo de Russo, Stonewall Celebration Concert, há uma canção que fala disso, que não é dele e sim do Garth Brooks e K. Blazy, cuja tradução livre coloco aí embaixo:

Se o amanhã nunca vier
Às vezes, tarde da noite,
Estou desperto e observo meu amor
Perdido em seu sono tranqüilo
Então, apago a luz e medito na escuridão.
E um pensamento sempre invade minha mente:
Se eu não acordar pela manhã,
Meu amor terá realmente sabido
O que sempre senti por ele em meu coração?

Se o amanhã nunca vier,
O amor que dei haverá sido bastante?
Quiçá eu não tentei demonstrar que lhe amei
E que não há mais corações?
E se meu tempo se acabou
Tendo agora que viver sem mim
O amor que um dia lhe dei
Durará até o fim
Se o amanhã nunca vier

Porque perdi pessoas queridas
Que jamais souberam quanto me importavam
E o arrependimento se faz presente
Porque o amor esteve ausente
Quando deveria haver lhes dito
Fiz-me então uma promessa
De não omitir-lhe o que sinto
Não importa o que passe
Porque pode não haver segunda chance

Então diga a alguém que ama
O que você está pensando
Se o amanhã nunca vier