7 de set. de 2006

¿Hablas español?

Aproveitando o gancho do último post, pensei que seria interessante falar um pouco de algo que praticamente deixei passar em branco até agora: a barreira do idioma. À primeira vista, espanhol é fácil de aprender. Lembro bem quando me preparava para a minha primeira viagem a Mardel, neste momento tão somente por férias, e havia uma piada recorrente inventada por Rafael, em que eu teria que traduzir do carioquês para o castelhano, a singela compra de uma Coca: “Me mira una Cueca-Cuela”. Claro, era um exagero nosso, mas quantas vezes não caímos na tentação de falar ou escrever assim em espanhol? Assim, automóvel seria automueble, por exemplo. Curiosamente, pimenta seria pimienta, mas a gente costuma cair no erro de pensar que é o mesmo que em português. Nem falar da troca de gêneros: o leite, no Brasil, vira la leche. Já as pobres árvores deixam ter a graça feminina para transformar-se em garbosos machos a quem chamamos LOS árboles. Mais engraçado e causador de embaraços eternos são as palavras homônimas (ou quase). Aliás, em se tratando de embaraços, deixar uma mulher embaraçada em português não é muito agradável, mas posso garantir que deixar uma mulher embarazada, sem haver pensado nisso, certamente vai te deixar preocupado durante os 9 meses que venham. E se eu oferecer gentilmente ao cavalheiro segurar seu saco enquanto se senta (ops), por favor, não pense tratar-se de um assédio sexual, tampouco duvide de minhas preferências, simplesmente me refiro ao casaco. Um conselho final: jamais, jamais!, queira fazer um galanteio usando a palavra concha, ou sofrerás as conseqüências...

Um fenômeno que passa comigo é que às vezes misturo os idiomas, inserindo uma palavra em português quando falo ou escrevo em espanhol e vice-versa. É estranho porque jamais tive esse problema com inglês. Outras vezes, invento palavras, como vergüenha, mistura de vergonha com vergüenza. Mas a sensação mais estranha de todas é quando percebo que meu interlocutor está tratando de adivinhar de onde sou: já fui americano, português e até francês (este, certamente por causa da gorra que uso SEMPRE no inverno). Uma vez, comprando créditos para o cartão do ônibus, me disseram thank you. Mas nem posso reclamar muito, várias vezes vendi perfumes (na rua!) simplesmente por ser brasileiro. Chega a ser comovente quando vejo os olhinhos das pessoas brilhando e perguntando o que, afinal de contas, estou fazendo aqui! Como pude sair de um lugar tão bom, caloroso, onde as pessoas são felizes, pra estar em um lugar tão frio, e com isto não querem se referir apenas ao clima. Percebo claramente que nessas ocasiões as pessoas se sentem um pouco especiais porque, depois de tudo, se um estrangeiro escolhe a Argentina pra viver, significa que aqui não é tão ruim, certo? Também houve uma ocasião, enquanto eu falava com a amiga de um colega do trabalho, em que percebi um olhar meio estranho que me deixou meio embaraçado (felizmente desembaracei em seguida). Depois, o tal amigo veio me dizer que ela pensou que eu fosse japonês ou chinês... Com esta pérola, fico por aqui.

Cuidem-se todos, força sempre!

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