24 de abr. de 2006

Um pouco de história...

Como já disse, vivo em Mar del Plata, Argentina. Mardel, como as pessoas carinhosamente a chamam, está localizada a umas 4 horas de estrada ou 1 hora de avião desde Buenos Aires, e é uma cidade essencialmente turística. Mal comparando, está para Rio, assim como Buenos Aires para São Paulo. Aliás, não acho que seja tão má comparação assim, senão vejamos: Mardel e Rio são cidades de praia, com intenso movimento turístico no verão, principalmente vindos de cidades maiores e pouco contato com a natureza (Buenos Aires e Sampa). Além disso, assim como no Rio, há uma grande quantidade de estrangeiros vivendo em Mar del Plata. Aí, começam as diferenças: basicamente são bolivianos e peruanos vivendo aqui, e muitos “chinos” também. Os chinos, como já devem ter percebido, são chineses e quaisquer outros com feições parecidas a eles. Logo vocês vão se dar conta que o argentino tem a mania de abreviar tudo. Eu sei que no Rio também há muitos estrangeiros vivendo, mas fora alguns peruanos que conheci na Praça Saens Pena, a maioria é de americanos, ingleses e... argentinos! Bem, o fato é que enquanto as pessoas se mudam para o Rio pelo seu charme (ou o que resta dele...) os bolitas, digo, bolivianos, vêm pra cá por trabalho. A maioria vem ilegal e trabalha em negro nas fábricas de pescado, ou seja, o que no Brasil seria sem carteira de trabalho. Observem que eles, em sua maioria, não querem voltar pra Bolívia, hein? Depois, falo mais disso, divago em excesso.

Então, já sabem que a cidade vive do turismo e das fábricas de pescado. Mas e como ela surgiu? Em 1800 e antigamente, um tal de Barão de Mauá, associado a um português, resolveu abrir um saladeiro no que seria então Mar del Plata. Não deu muito certo e o nosso querido Evangelista de Souza se desfez de sua parte. Pouco depois, o português, pra saudar as dívidas, cedeu a sua parte para um dos pioneiros da região, Patricio Peralta Ramos. Esse cara teve a visão de transformar a localidade em povoado, criando um plano para a cidade, ou seja, Mardel não cresceu de maneira desordenada, como em geral acontece. Outro personagem fundamental para a cidade foi Pedro Luro que se fez cargo do saladeiro e outros empreendimentos. Inicialmente, nos lotes foram sendo construídas casas de veraneio, mas com o tempo as pessoas, principalmente de mais idade, começaram a se mudar para a cidade (por causa do mar – lembrem-se que antigamente banhos de mar eram considerados terapêuticos). Até hoje, a cidade tem uma grande população de idosos, somos uma grande Copacabana! Outro dado interessante sobre as origens dos cidadãos atuais é que desde sempre houve italianos (ou “tanos”), aumentando ainda mais durante a Segunda Grande Guerra; vieram muitos espanhóis também. Atualmente, além destes todos que já citei, notei que há vários provenientes das antigas repúblicas soviéticas. Não me perguntem o porquê. Deve ser uma questão de clima ou fogem da guerra, sei lá. Na próxima que eu vá a Migraciones, vou me animar a perguntar...

Durante o verão, todas as grandes produções teatrais migram para a cidade. Sobra muito pouca coisa em Buenos Aires, já que grande parte das pessoas, principalmente aquela que tem prata pra gastar, está aqui! Verão passado, fui assistir a uma peça chamada Táxi, que na verdade é uma montagem originalmente inglesa. Foi divertida. Chegaram a apresentar uma versão de uma peça de Ingrid Guimarães e Heloísa Perisset, que aqui chamaram Locas de Atar (não me recordo o nome original, alguém sabe?). O triste é que ao final da temporada a cidade se torna mais triste e cinza, já que todo aquele movimento e jogo de luzes dos ônibus que percorrem o centro com crianças e seus pais, homens-aranha e power rangers de araque dão lugar a um deserto de gente, principalmente à noite. Afinal de contas, o outono chega e com ele o frio. É curioso que a cidade não deixa de ser mais bonita por isso, mas trás uma certa melancolia. Admito que às vezes eu gosto disso. Mas a cada feriado largo, a cidade se ilumina de novo: inexoravelmente, se enche de turistas, nem que seja pra ficar três, quatro dias. E com chuva. Bem, pra finalizar, jamais chame a um habitante da cidade de portenho, porque este vem de Buenos Aires e, apesar de trazer grana pra gastar por aqui, não é muito bem visto, na verdade imagino que a má fama que o argentino tem no exterior é culpa dos portenhos. Já me disseram várias vezes que são todos muito presunçosos e chatos. Confesso que já presenciei um par de vezes situações meio estranhas com os portenhos, mas ainda não tenho um juízo definitivo pra dar sobre este assunto. Conheço uns espanhóis tão mal-humorados quanto alguns de Buenos Aires. Pode ser cultural. Com certeza, falarei mais disso no futuro. Por agora, podem me chamar de marplatense.

Pra saber mais:

Estes sítios estão em espanhol, mas não é difícil de entender.

Saludillos!

4 comentários:

Anônimo disse...

Fala Cordeiro!

Voce fugiu porque?

Tao longe assim nao era preciso, poderia ter fugido para... Sao Goncalo!

Procurei Mar Del Plata no Google Earth e nao achei. Vc poderia colocar um link no seu blog pra gente te achar?

Parabens pela iniciativa. Vamos ver se vc mantem isso movimentado. Vou voltar pra conferir!

Anônimo disse...

Fala amiguinho! Não é que você fez mesmo? Botou o blog no ar. E diga-se de passagem, com história interessante e comentários próprios, já gostei. Mas eu também sou suspeito pra dizer alguma coisa...
Vou continuar passando por aqui, comentando sobre qq coisa que eu tenha algo de interessante a dizer, por enquanto estou apenas tateando mesmo, sem querer influenciar sua criação. Mas saiba que tem gente olhando!

Anônimo disse...

Adorei seu texto... A analogia que vc faz entre Mar del Plata x RJ e Buenos Aires x SP ficou fantástica....Parabéns!

Mil beijos
Carla Lousada

Fabio Ricardo Cordeiro disse...

Pô, até que era boa idéia ira Sao Gonga, vacilei :-) Sobre o Google Earth: sabe que jamais pensei em buscar? É capaz de nao estar, mesmo, depois vou dar uma olhada.

Vocês estao elogiando tanto que vou ter contratar um ghostwriter pra manter o nível dos próximos textos :-))

Abçs a todos!