27 de mar. de 2007

Negrume

Os mais atentos hão de perceber que entre o primeiro e este passam dois anos. Não é que eu tenha tido uma grave crise criativa já nessa época, mas é que sempre fui muito exigente comigo mesmo, penso que se é para escrever algo, então que valha a pena. No caso, entre um sem número de coisas que perdi em meus velhos cadernos, este poema parnasiano se salvou.

Negrume

Cigarro em punho,
o homem anda sem escolher seu caminho,
escorregando a saliva das palavras sem sentido,
até estas caírem ao chão.
Então, uma luz meio inclinada meio vertical
o faz enxergar a si mesmo e a um poste,
antes de ir contra este.

Trôpego, pelo resto do calçamento de cimento,
só desvia do desvio original,
por não mais conseguir achar o antigo caminho.

Então, a saliva se transforma num projétil,
que de se esparramar ao chão
o lava com sua água suja,
pouco antes do cigarro apagar junto à sua vida,
num vão de tempo.

1988

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