Sierra de los Padres é uma espécie de bairro nas aforas de Mar del Plata que está a uns 150 metros acima do nível do mar. Para quem conhece o Rio, eu compararia com o Alto da Boa Vista. Para chegar aí, serve o caminho até Balcarce – a cidade onde nasceu Fangio – cercado por granjas e sítios que em sua maioria absorvem a mão-de-obra dos bolitas, como os bolivianos são “carinhosamente” chamados por aqui. Chama a atenção onde eles moram, casas muito precárias, poderia dizer que é uma favela até razoavelmente grande para os padrões daqui. A certa altura, há uma bifurcação, nesse momento o motorista dobrou à direita e paramos uns minutos. Notei que havia um kiosco, algo como um armarinho, chamado “El Coyunco”; também havia um mercado um pouco maior e um posto de gasolina com o mesmo nome, praticamente um império (que não descubram os piqueteiros!). Na verdade, coyunco é uma planta que cresce ao longo da Laguna de los Padres.
Logo depois deste preâmbulo tortuoso e desnecessário, chegamos a um sítio, que é o que realmente importa neste texto. Fomos aí convidados por Atílio, avô de Sandra, minha esposa. Ele é um velhinho de 80 com cara de 70 e cabeça e disposição de 20, que me faz ter esperança de dias felizes na velhice, se eu chegar a essa idade (tenho sérios temores de não me suportar depois dos 60). Também nos acompanhou minha sogra, Carmen, a quem chamo de viejita por pura provocação, visto que é uma pessoa também muito jovem. O grupo era basicamente composto por viejitos de verdade, sendo que a maioria de senhoras. Acredito que havia um total de um 5000 anos de experiência se juntasse os dois ônibus, mas era espantoso como eram todos ativos, cantavam canções folclóricas italianas – em grande parte eram italianos ou descendentes diretos – demonstrando ter uma energia até então insuspeitada. Ao descer do ônibus, por exemplo, uma senhora beeeem velhinha não quis ajuda! Nada de ser dependente dos mais jovens. Confesso que no início eu via a experiência como sendo uma espécie de auto-análise em que eu precisava perder ou pelo menos diminuir o temor à velhice.
O bairro em si não tem grandes atrações, apesar de que tem coisas muito bonitas, tudo muito bem cuidado e em franco crescimento, um par de mini-shoppings ao ar livre, tendo sempre em conta a preocupação de estar bem integrado à natureza. É um lugar demasiado tranqüilo em que as pessoas são mais desconfiadas ainda do que o marplatense médio, me pareceu inclusive que não gostam muito de gente de fora (e não estou falando de mim). Em uma hora, vimos o que tinha que ver e acredito que trinta minutos estariam já de bom tamanho. Voltamos ao sítio, comi um par de choripanes (cachorro-quente feito de lingüiça), vimos um mini-show de um cantor com direito a fabuloso sorteio de seus CDs, enfim era um dia bastante pacato e até agradável, relaxante, mas que de forma inesperada quase se transforma em drama... Não sei se já comentei aqui, mas adoro animais, em especial os gatos. Tenho loucura por felinos. Justamente havia 3 filhotes, provavelmente com não mais que um mês, cuja mamãe gata havia deixado de existir. Estavam todos muito fraquinhos e famintos. Sandra e Carmen são tão bicheras quanto eu, e lhes dávamos de comer o que tinha sobrado, dando carinho e cuidando para que ninguém os pisasse, de tão pequenos que eram. O que no início era uma distração, pouco a pouco ganhou um contorno mais denso porque começamos a sentir muita pena de deixar os gatinhos aí, de tão fracos que estavam. É que nos parecia muito claro que não estavam dando a menor pelota para eles. Por mim, eu levaria os três para casa, mas como tenho já uma gata, Juanita, que é bastante ciumenta, Sandra resistiu bravamente às minhas tentativas de levar o negrito que mordeu meu dedo por engano quando lhe dava de comer. O lindo disso tudo é que nosso esforço chamou a atenção das pessoas e outras senhoras se dispuseram a ajudar, encontrar um lar pra cada um. Eu tinha um plano B, caso algum sobrasse: já no ônibus, Sandra não teria coragem de se desfazer do gatinho que eu levaria escondido. Por sorte, não tive que chegar a esse extremo. Enfim, o que era pra ter sido mais que nada um dia de repouso, tinha reservado os seus momentos de emoção novelística com direito a final feliz, embora eu saiba que para muitos que cheguem a ler o texto, que importância há em salvar a vida de três gatinhos diante dos Joões deste mundo? Bem, cada um sabe o que pode fazer para ter um mundo um pouco melhor. Tudo que eu posso dizer é que cada peça é importante. Faço o que está a meu alcance, ainda que pareça pouco.
Força sempre!
Logo depois deste preâmbulo tortuoso e desnecessário, chegamos a um sítio, que é o que realmente importa neste texto. Fomos aí convidados por Atílio, avô de Sandra, minha esposa. Ele é um velhinho de 80 com cara de 70 e cabeça e disposição de 20, que me faz ter esperança de dias felizes na velhice, se eu chegar a essa idade (tenho sérios temores de não me suportar depois dos 60). Também nos acompanhou minha sogra, Carmen, a quem chamo de viejita por pura provocação, visto que é uma pessoa também muito jovem. O grupo era basicamente composto por viejitos de verdade, sendo que a maioria de senhoras. Acredito que havia um total de um 5000 anos de experiência se juntasse os dois ônibus, mas era espantoso como eram todos ativos, cantavam canções folclóricas italianas – em grande parte eram italianos ou descendentes diretos – demonstrando ter uma energia até então insuspeitada. Ao descer do ônibus, por exemplo, uma senhora beeeem velhinha não quis ajuda! Nada de ser dependente dos mais jovens. Confesso que no início eu via a experiência como sendo uma espécie de auto-análise em que eu precisava perder ou pelo menos diminuir o temor à velhice.
O bairro em si não tem grandes atrações, apesar de que tem coisas muito bonitas, tudo muito bem cuidado e em franco crescimento, um par de mini-shoppings ao ar livre, tendo sempre em conta a preocupação de estar bem integrado à natureza. É um lugar demasiado tranqüilo em que as pessoas são mais desconfiadas ainda do que o marplatense médio, me pareceu inclusive que não gostam muito de gente de fora (e não estou falando de mim). Em uma hora, vimos o que tinha que ver e acredito que trinta minutos estariam já de bom tamanho. Voltamos ao sítio, comi um par de choripanes (cachorro-quente feito de lingüiça), vimos um mini-show de um cantor com direito a fabuloso sorteio de seus CDs, enfim era um dia bastante pacato e até agradável, relaxante, mas que de forma inesperada quase se transforma em drama... Não sei se já comentei aqui, mas adoro animais, em especial os gatos. Tenho loucura por felinos. Justamente havia 3 filhotes, provavelmente com não mais que um mês, cuja mamãe gata havia deixado de existir. Estavam todos muito fraquinhos e famintos. Sandra e Carmen são tão bicheras quanto eu, e lhes dávamos de comer o que tinha sobrado, dando carinho e cuidando para que ninguém os pisasse, de tão pequenos que eram. O que no início era uma distração, pouco a pouco ganhou um contorno mais denso porque começamos a sentir muita pena de deixar os gatinhos aí, de tão fracos que estavam. É que nos parecia muito claro que não estavam dando a menor pelota para eles. Por mim, eu levaria os três para casa, mas como tenho já uma gata, Juanita, que é bastante ciumenta, Sandra resistiu bravamente às minhas tentativas de levar o negrito que mordeu meu dedo por engano quando lhe dava de comer. O lindo disso tudo é que nosso esforço chamou a atenção das pessoas e outras senhoras se dispuseram a ajudar, encontrar um lar pra cada um. Eu tinha um plano B, caso algum sobrasse: já no ônibus, Sandra não teria coragem de se desfazer do gatinho que eu levaria escondido. Por sorte, não tive que chegar a esse extremo. Enfim, o que era pra ter sido mais que nada um dia de repouso, tinha reservado os seus momentos de emoção novelística com direito a final feliz, embora eu saiba que para muitos que cheguem a ler o texto, que importância há em salvar a vida de três gatinhos diante dos Joões deste mundo? Bem, cada um sabe o que pode fazer para ter um mundo um pouco melhor. Tudo que eu posso dizer é que cada peça é importante. Faço o que está a meu alcance, ainda que pareça pouco.
Força sempre!
2 comentários:
Adoro tuas historias,sempre leio todas elas,mais è a primeira vez que faço meu comentario.Me faz lembrar quando era criança e meu avo contava historias pra mim e minha irma,nois esperavamos ansiosas esas historias.Fiquei surpresa ao saber que ia a ser enganada por vc....sabe como eu sou com os animais....mais com certeza ia a ser perdoado adoro os animais e a vc tb :P,meus parabens!!tuas historias sao demais! prometo que vou pasar a comentar mais,beijinhos:*
Você sabe que é a minha gatinha preferida, né?, te adoro! Obrigado por estar sempre ao meu lado :-)
Um bejim no coraçao! :-*
Postar um comentário